Capitulo 19
Lauren entrou no escritório na manhã seguinte com um chique conjunto de camurça vinho e um sorriso determinado e radiante. Jim deu-lhe uma olhada e riu.
— Lauren, estás deslumbrante... mas não devias apresentar-te para o trabalho lá em cima?
— Não mais — respondeu, entregando-lhe a correspondência.
Ela supunha que, como terminara o “jogo” do dia anterior, Bill não ia querê-la mais no último andar pelas manhãs.
Enganara-se. Cinco minutos depois, enquanto discutiam um relatório no qual ela trabalhava, o telefone na mesa de Jim tocou.
— É o Bill — ele disse, passando-lhe o telefone. A voz chegou com uma chibatada:
— Sobe! Eu disse que te queria aqui o dia inteiro e falei a sério. Agora mexe-te!
Desligou na cara dela, e Lauren fitou o telefone como se tivesse acabado de mordê-la. Não esperava que Bill lhe falasse dessa maneira. Jamais ouvira ninguém falar assim.
— A-acho que é melhor eu subir — disse, apressando-se a levantar-se.
O rosto de Jim era pura incredulidade.
— Eu gostaria de saber que diabos lhe deu.
— Acho que eu sei.
Ela notou o pensativo sorriso que se espalhou pelo atraente rosto de Jim, mas não tinha tempo para examiná-lo com atenção.
Apenas poucos minutos depois, bateu na porta do Bill e, com uma calma externa que não sentia, entrou no escritório dele. Esperou dois intermináveis minutos até que ele tomasse conhecimento da sua chegada, mas após ter quase gritado para que ela subisse, continuou a escrever, ignorando a sua presença. Com um irritado encolher de ombros, Lauren acabou por aproximar-se da escrivaninha e estendeu-lhe a caixinha aveludada de jóias.
— Estes não são os brincos da minha mãe, e não os quero — declarou ao perfil de granito de Bill. — Os da minha mãe são argolas de ouro comuns, não pérolas. Não valem uma fracção do que valem estes; o único valor é sentimental. Mas para mim são inestimáveis. Significam algo para mim e eu quero-os de volta. És capaz de entender isso?
— Totalmente capaz — ele respondeu, gélido, sem erguer os olhos. Estendeu o braço e apertou o botão do interfone para chamar Mary à sala. — Contudo, os teus sumiram. Como não consegui reavê-los, dei-te uma coisa que tinha valor sentimental para mim. Esses brincos pertenceram à minha avó.
Lauren sentiu o estômago revirar-se de náusea e o ressentimento desapareceu da voz quando disse em voz baixa:
— Mesmo assim, não posso aceitar.
— Então deixa-os aí.
Indicou a quina da escrivaninha com um brusco aceno da cabeça.
Lauren largou a caixa e voltou para seu escritório temporário. Mary seguiu-a um minuto depois, fechou a porta de acesso ao escritório do chefe atrás de si e aproximou-se da mesa. Com um sorriso bondoso, transmitiu as instruções que Bill obviamente lhe passara:
— A qualquer hora nos próximos dias, ele espera um telefonema do Rossi. E quer-te disponível para actuar como tradutora sempre que o homem decidir ligar. Enquanto isso, eu ficaria muito grata se me ajudasses com parte do meu serviço. Se ainda sobrar tempo, poderias trazer algum trabalho do Jim para fazer aqui em cima.
Durante os três dias seguintes, Lauren conheceu lados de Bill que apenas tinha imaginado existirem. Desaparecera o homem provocador que a beijara e perseguira de forma tão implacável. Em seu lugar, revelou-se um executivo poderoso, dinâmico, que a tratava com uma enérgica e distante formalidade, que a intimidava da cabeça aos pés. Quando não se encontrava ao telefone ou em reuniões, ditava-lhe textos ou trabalhava na sua mesa. Chegava antes dela de manhã e continuava lá quando ela ia embora, à noite. Na função de secretária auxiliar, petrificava-a a ideia de desagradá-lo de algum modo. Tinha a sensação de que ele apenas esperava que cometesse um erro e lhe desse um motivo legítimo para demiti-la.
Na quarta-feira, cometeu o erro que vinha temendo: deixou um parágrafo inteiro fora de um contrato detalhado que Bill lhe ditara. Assim que ele a convocou, ríspido, pelo interfone, Lauren soube que chegara a sua hora, e entrou no escritório com as pernas trémulas e as mãos suadas. Mas, em vez de esfolá-la viva — dava para perceber que era o que gostaria de fazer — apontou o erro e empurrou os contratos na sua direcção.
— Fá-lo de novo — repreendeu-a — e, desta vez, fá-lo direito.
Lauren relaxou um pouco depois disso. Se não fora demitida por aquele erro crasso, era óbvio que não procurava uma desculpa para livrar-se dela. Precisava tê-la disponível para o tal telefonema de Rossi, por mais insatisfatório que fosse o seu desempenho.
— Sou Vicky Stewart — anunciou, mais tarde, uma voz murmurante, quando se apresentou ao meio-dia a Lauren, que ergueu os olhos e se deparou com uma morena incrivelmente glamourosa parada ali à sua frente. — Por acaso vim ao centro e decidi passar por aqui e ver se o Billy... o senhor Kaulitz... está livre para almoçar — informou-a. — Não é preciso anunciar-me, eu vou entrando.
Alguns minutos depois, os dois saíram juntos, sem pressa, do escritório e dirigiram-se aos elevadores. Ele, com a mão na base das costas da morena, numa atitude de intimidade, ria de qualquer coisa que ela lhe contava.
Lauren girou na cadeira e retornou à dactilografia. Detestou aquela fala arrastada de Vicky Stewart; detestou a forma possessiva como olhava para ele; detestou a risada ofegante. De fato, tudo na outra lhe causava aversão, e ela sabia o exacto motivo... estava desesperada, total e irremediavelmente apaixonada por Bill Kaulitz.
Adorava tudo nele, desde a aura de poder e autoridade que o circundava, a enérgica confiança nas longas passadas, até a aparência que assumia quando absorto em pensamentos. Adorava a elegância com que usava aquelas roupas caras, o jeito de girar, distraído, a caneta de ouro na mão quando escutava alguém ao telefone. Era — ela chegou à conclusão, com uma dolorosa sensação de atormentada desesperança — o homem mais poderoso, cativante e dinâmico do mundo. E jamais lhe parecera tão além do seu alcance.
— Não te preocupes demais, minha querida — disse Mary Callahan, ao levantar-se para ir almoçar. — Diversas Vicky Stewart já passaram na vida dele antes. Não duram muito tempo.
O consolo apenas fez com que Lauren se sentisse pior. Desconfiava que a secretária mais antiga não apenas ficara sabendo de tudo o que acontecera entre ela e o chefe antes, mas também sabia exactamente como se sentia em relação a ele agora.
— Não me interessa o que ele faz! — respondeu com irritado orgulho.
— Não mesmo? — retorquiu Mary com um sorriso e saiu para almoçar.
Bill só retornou no fim da tarde, e Lauren perguntou-se, furiosa, para qual cama os dois haviam ido... a dele ou a de Vicky.
Quando deixou o escritório, sentia-se tão desgastada de ciúmes e tão cheia de desprezo pessoal por amar um libertino tão destituído de princípios que uma dor de cabeça de rachar a acometeu. Em casa, ficou vagando sem rumo em volta da elegante sala de estar.
O facto de estar perto dele magoava-a mais a cada dia que passava. Tinha de sair da K’s... não suportava ficar tão perto dele, amá-lo como o amava e ser obrigada a vê-lo com outras mulheres. Não aguentava que ele a tratasse como se ela fosse uma peça de engrenagem do escritório, cuja presença o ofendia, mas a necessidade o obrigava a mantê-la por perto.
Invadiu-a um repentino e louco desejo de mandar Bill Kaulitz e Gordon Whitworth para o inferno, arrumar as malas e regressar ao encontro do pai, dos amigos. Mas claro que não podia fazer isso. Eles precisavam...
De repente parou de andar, a mente agarrando-se a uma solução que devia ter lhe ocorrido antes. Existiam outras grandes empresas em Detroit que necessitavam de boas secretárias e pagavam altos salários. Quando comprasse os ingredientes para o bolo de Jim naquela noite, também compraria um jornal. Desde já, ia começar a procurar outro emprego.
Enquanto isso, Lauren telefonaria a Jonathan Van Slyke, com quem estudara durante o último ano, e ofereceria lhe o piano de cauda. O professor quisera comprá-lo no momento em que pusera os olhos no instrumento.
Apesar da difusa dor que a atingiu diante da perspectiva de vendê-lo, sentiu paz pela primeira vez em semanas. Procuraria um pequeno apartamento, mais barato, e mudar-se-ia daquele lugar. Até lá, realizaria o melhor trabalho possível na K’s... e se por acaso ouvisse algum dos nomes que Gordon lhe passara, o esqueceria imediatamente. Gordon ia ter de fazer o seu próprio trabalho sujo. Ela não podia e não queria trair Bill.
A manhã seguinte, Lauren atravessou o saguão de mármore, equilibrando com todo o cuidado a caixa com o bolo de Jim, além de um pacote festivamente embrulhado que continha o pólo cor de mel. Sentia-se relaxada e despreocupada, e sorriu quando um senhor idoso de terno castanho recuou no elevador para dar-lhe mais espaço.
O elevador parou no trigésimo andar e as portas abriram-se. Ela notou que bem em frente, do outro lado do corredor, uma porta de escritório exibia uma placa de identificação onde se lia: Divisão de Segurança — Global Industries.
— Com licença — pediu o senhor de terno castanho. — Este é o meu andar.
Ela afastou-se para um lado, deu-lhe passagem e viu-o atravessar o corredor até o escritório da segurança.
A principal função da Divisão de Segurança era proteger as instalações industriais da Global Industries, sobretudo as instalações externas por todo o país, onde a verdadeira pesquisa se encontrava em andamento, onde contratos com o governo aconteciam. A maior parte da actividade realizada pela divisão ali na sede, porém, era relativa a processamento de trabalho administrativo. Como director da divisão de Detroit, Jack Collins sentia-se muito entediado, mas a saúde em declínio e a idade avançada haviam-no obrigado a abandonar o trabalho de campo e aceitar esse emprego burocrático.
Quando Jack entrou no escritório, encontrou o seu assistente, um rapaz de rosto redondo, super entusiástico, chamado Rudy, sentado com os pés apoiados em cima da mesa.
— Que aconteceu? — perguntou o mais jovem, e apressou-se a sentar-se direito.
— Provavelmente, nada. — Jack deslizou a pasta por cima da mesa e retirou um arquivo rotulado como “Relatório de investigação de segurança/Lauren E. Danner/Funcionária nº 98753”. Jack não gostava muito de Rudy, mas parte do seu trabalho antes de aposentar-se era treiná-lo. Com relutância, explicou: —Acabei de receber o relatório de uma investigação que fizemos sobre uma secretária no prédio.
— Uma secretária? — A voz do jovem soou desapontada. — Não imaginei que fizéssemos investigações de segurança sobre secretárias.
— Em geral, não fazemos. Nesse caso, designaram-na para um projecto confidencial de prioridade máxima, e o computador automaticamente a reclassificou e emitiu um atestado de “nada consta”.
— Então, qual é o problema?
— O problema é que quando os investigadores no Missouri a investigaram com o ex-empregador, o sujeito disse que ela trabalhou para ele em regime de meio expediente durante cinco anos, enquanto frequentava a faculdade. Não em tempo integral, como supôs Weatherby na K’s.
— Então ela mentiu na ficha de emprego, é isso? — perguntou Rudy, interessando-se.
— É, mas não sobre isso. Na verdade, a candidata não disse que trabalhou lá em expediente integral. O problema é o seguinte: ela disse que nunca tinha feito faculdade. Os investigadores do Missouri analisaram com a universidade, e a moça não apenas se formou, mas também obteve um mestrado.
— Por que alguém diria que não tinha frequentado a faculdade quando, na verdade, frequentou?
— Essa é uma das coisas que me incomodam um pouco. Eu entenderia se ela tivesse dito que havia cursado a faculdade quando, na verdade, não. Poderia imaginar que um diploma universitário a ajudaria a conseguir o emprego.
— Quais são as outras coisas que o incomodam?
Jack ergueu os olhos para o rosto redondo de Rudy, os olhos ávidos, e encolheu os ombros.
— Nada — mentiu. — Eu só queria esclarecer isso sobre ela para minha própria paz de espírito. Tenho de ir ao hospital fazer alguns exames este fim-de-semana, mas na segunda-feira começarei a trabalhar no caso.
— Por que não me deixa investigá-la, enquanto está no hospital?
— Se decidirem internar-me para mais exames, eu telefono e digo como proceder.
— É o meu aniversário — anunciou Jim, quando Lauren entrou no escritório. — Em geral, a secretária traz um bolo para o chefe, mas imagino que tu não trabalhas aqui tempo suficiente para saber disso. — A voz dele soou um pouco triste.
Lauren desatou a rir. Só agora percebia como a promessa que fizera a Gordon Whitworth a oprimia. De repente, o peso desapareceu:
— Não apenas fiz um bolo, mas também tenho um presente para ti — informou-o com um sorriso. — Que eu mesma fiz.
Jim desembrulhou o pacote que ela lhe entregou, e pareceu maravilhado como um menino com o pólo.
— Tu não devias... — riu, erguendo-o — ... mas alegra-me que o tenhas feito.
— Era para desejar-te um feliz aniversário e agradecer-te por me ajudares com as... coisas — ela concluiu de forma trôpega.
— Por falar em “coisas”, a Mary contou-me que o Bill parece um barril de dinamite prestes a explodir à primeira centelha. E que tu tens resistido maravilhosamente à tensão. Conquistou a sincera aprovação dela — acrescentou em voz baixa.
— Eu também gosto dela — disse Lauren, com os olhos entristecendo-se à menção de Bill.
Jim esperou que Lauren saísse, depois pegou no telefone e apertou quatro números.
— Mary, como anda a atmosfera aí em cima esta manhã?
— Sem a menor dúvida, explosiva — ela respondeu rindo.
— Bill vai estar no escritório à tarde?
— Vai, por quê?
— Porque decidi acender um fósforo e ver o que acontece.
— Jimmy, não faças isso! — disse Mary em voz incisiva.
— Vejo-te um pouco antes das cinco, minha linda. — O aniversariante riu, ignorando a advertência.
*Continua no proximo capitulo*
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Buahahahah
O Jim é demais :x
Nem vou dizer o que ele vai fazer (a)
Talvez amanha veja (a)
Kiss <33'
Phi'K
O que é que aquele idiota vai fazer? O.O
ResponderEliminarAi o meu Bill TUT
Mais! -.-
PHIII +.+
ResponderEliminarEpah desculpa não andar a comentar mas não tenho tempo. Eu adoro isto! Quero mais mais e mais. nunca me canso de ler e acho que não tenho mais palavras para dizer que preciso de mais alimento para a minha sede de leitura...