Capitulo 6
Juntou as sobrancelhas e deslizou os olhos pela volumosa massa de cabelos cor de mel avermelhado que emolduravam o rosto dela e caíam-lhe num glorioso abandono pelos ombros e costas. O olhar surpreso que dirigiu àquele rosto notou os vividos olhos turquesa que chispavam com humor por baixo dos cílios densos e curvos, o nariz empinado, as faces finamente esculpidas e os lábios macios. Passou depois para os seios fartos, a cintura esguia e as longas pernas bem elegantes.
Lauren esperava fazê-lo notá-la como mulher, e ele sem dúvida correspondia. Agora torcia para que ele dissesse algo agradável. Mas ele nada disse.
Sem dizer alguma palavra, girou nos calcanhares, foi até o bar e despejou o conteúdo de um dos copos na pia de aço inoxidável.
— Que estás a fazer? — perguntou Lauren.
A voz dele saiu cheia de divertimento e ironia:
— Adiciono um pouco de gim à tua tónica.
Lauren desatou a rir, fazendo-o voltar-se e olhá-la, um sorriso irónico curvando-lhe os lábios.
— Só por curiosidade, quantos anos tens?
— Vinte e três.
— E ias-te candidatar a uma vaga de secretária na K’s... antes de cair aos nossos pés esta noite? — incitou-a Bill, adicionando uma modesta dose de gim à tónica.
— Sim.
Ele entregou-lhe o copo e indicou o sofá com a cabeça.
— Senta-te... não devias ficar em pé com o tornozelo magoado.
— Para ser franca, não dói — ela protestou, mas sentou-se, obediente.
Bill ficou parado na frente dela, olhando-a com uma expressão curiosa.
— A K’s ofereceu-te o emprego? — perguntou.
Era tão alto que ela tinha de inclinar a cabeça para trás, a fim de enfrentar aquele olhar.
— Não.
— Eu gostaria de dar uma olhada nesse tornozelo — ele disse.
Após colocar a bebida na mesa de centro de vidro, agachou-se e começou a desafivelar a fina tira da sandália dela. O simples roçar dos dedos no tornozelo causou-lhe um arrepio na perna, e Lauren enrijeceu-se com o choque inesperado.
Por sorte, ele pareceu não notar isso quando explorou com os dedos a perna e desceu devagar para o tornozelo.
— És uma boa secretária?
— O meu antigo patrão achava que sim.
Com a cabeça ainda curvada, Bill disse:
— Há sempre uma demanda de boas secretárias. O departamento pessoal da K’s sem dúvida vai acabar por ligar para te oferecer o cargo.
— Eu duvido — disse ela com um irreprimível sorriso. — Receio que o senhor Weatherby, o gerente de pessoal, não me ache muito brilhante — explicou.
Bill ergueu a mão e moveu o olhar com franca apreciação masculina sobre as vividas feições da candidata.
— Lauren, acho-te tão brilhante quanto uma moeda nova, reluzente. Weatherby deve estar cego.
— Claro que está! — ela provocou. — Senão, jamais usaria um paletó xadrez com uma gravata estampada.
Bill riu:
— Usa mesmo?
Lauren confirmou com a cabeça e sentiu o momento de camaradagem assumir uma estranha carga de consciência inexplicável e cada vez mais profunda. Agora, ao sorrir, via mais que apenas um homem muitíssimo bonito. Via um leve cinismo naqueles olhos, temperado com simpatia e humor, a dura experiência gravada no rosto fortemente cinzelado. Para Lauren, isso o tornava ainda mais atraente. Não havia como negar tampouco o poder do magnetismo sexual que emanava de cada centímetro vigoroso e seguro daquele corpo, atraindo-a.
— Não parece inchado — ele comentou, tornando a curvar a cabeça na direcção do tornozelo. — Chega a doer?
— Muito pouco. Nem de longe tanto quanto a minha dignidade.
— Nesse caso, amanhã o tornozelo e a dignidade, na certa estarão óptimos.
Ainda de cócoras, Bill segurou o pé dela com a mão esquerda e estendeu a outra para pegar a sandália. Quando já ia calçá-la, ergueu o olhar e deu um sorriso preguiçoso, que fez o pulso de Lauren disparar, ao perguntar:
— Não há um conto de fadas sobre um homem que busca uma mulher cujo pé se encaixa num sapatinho de cristal?
Ela fez que sim com a cabeça.
— Cinderela.
— Que me acontece se esta sandália se encaixar?
— Eu transformo-te num belo sapo — ela disse, irónica.
Ele riu, emitindo um som profundo e maravilhoso, quando os olhares se encontraram e ela viu alguma coisa reluzir das profundezas daqueles olhos misteriosos: uma breve chama de atracção sexual, que ele logo apagou. O momento agradável e bem-humorado chegara ao fim. Ele afivelou a sandália de Lauren. Pegou na sua bebida, bebendo-o rapidamente e colocou o copo sobre a mesinha de centro. Era, sentiu Lauren, um sinal indesejado de que o tempo que passaram juntos chegava ao fim. Viu-o curvar-se, pegar o telefone no outro lado da mesa de centro e digitar um número de quatro dígitos.
— George — disse ao telefone —, aqui é Bill Kaulitz. A senhora que você perseguia ao achar que era uma invasora, recuperou-se da queda. Quer trazer o carro da segurança à frente do prédio e levá-la onde o dela está estacionado? Certo, encontro-o lá em baixo dentro de cinco minutos.
Lauren sentiu o coração afundar. Cinco minutos. E não ia ser ele quem a levaria ao carro! Teve uma sensação terrível de que ele tampouco ia perguntar-lhe como poderia entrar em contacto com ela. Era uma ideia tão deprimente que desfez por completo a vergonha por ter descoberto que tinha fugido de um segurança esta noite.
— Tu trabalhas para a empresa que construiu este arranha-céu? — perguntou, tentando adiar a separação dos dois e descobrir alguma coisa a respeito dele.
Bill olhou, quase impaciente, o relógio.
— É, trabalho.
— Gostas do trabalho de construção?
— Adoro construir coisas. — Foi a curta resposta. — Sou engenheiro.
— Vais ser enviado a algum outro lugar quando este prédio for concluído?
— Vou passar quase todo o meu tempo aqui pelos próximos anos.
Lauren levantou-se e pegou o casaco, com pensamentos confusos. Talvez com os sofisticados computadores controlando tudo, desde os sistemas de aquecimento aos elevadores nos novos arranha-céus, fosse necessário manter algum tipo de engenheiro no quadro de funcionários. Não que isso de fato importasse de uma forma ou de outra, ela pensou com um terrível pressentimento. Na certa não ia tornar a vê-lo.
— Bem, obrigada por tudo. Espero que o presidente não descubra que tu atacaste o armário de bebidas dele.
Bill disparou-lhe um olhar irónico.
— Já foi atacado por todos os trabalhadores daqui. Vai ter de ser trancado para que isso tenha fim.
Ao descerem no elevador, ele pareceu preocupado e apressado. De certeza já tinha um encontro esta noite, pensou Lauren um pouco triste. Com alguma bela mulher, modelo, no mínimo, se tinha de igualar-se à beleza dele. Claro, talvez ele fosse casado, mas não usava aliança nem parecia casado.
Um carro branco com as palavras Divisão de Segurança da Global Industries encostara junto à compacta terra batida diante do prédio e esperava, com um guarda uniformizado ao volante. Bill levou-a ao carro e segurou a porta aberta, enquanto ela se sentava no banco do passageiro. Usando o corpo para protegê-la do ar gelado, ele apoiou o antebraço no capo e curvou a cabeça para falar-lhe pela estreita abertura.
— Conheço algumas pessoas na K’s, vou ligar para alguém e ver se eles conseguem convencer Weatherby a mudar de ideias.
O ânimo de Lauren foi às alturas com esse indício de que ele gostava dela o suficiente para interceder, mas ao lembrar como sabotara de propósito os testes, balançou a cabeça em autêntica consternação.
— Não te dês ao trabalho. Ele não vai mudar, causei uma impressão terrível. Mas obrigada pela oferta.
Dez minutos depois, Lauren entrou no seu carro. Obrigando-se a afastar os pensamentos de Bill Kaulitz, seguiu as orientações que a secretária de Gordon lhe dera e pensou, com angústia, no encontro iminente com a família Whitworth.
Em menos de meia hora, ia tornar a entrar na mansão de Grosse Pointe. As lembranças do humilhante fim-de-semana na elegante casa catorze anos atrás invadiram-lhe a mente, causando-lhe um arrepio de medo e constrangimento. O primeiro dia não fora ruim; passara-o praticamente sozinha. O mais terrível começara logo após o almoço, no segundo dia. Carter, o filho adolescente da família, aparecera-lhe na porta do quarto e anunciara que a mãe o instruíra a levá-la para fora de casa, pois ela esperava amigos e não queria que a vissem. Durante o restante da tarde, o garoto fizera-a sentir-se tão infeliz e assustada quanto pudera.
Além de chamá-la de ‘Quatro Olhos’ por causa dos óculos que usava, vivia referindo-se ao pai dela, professor numa universidade em Chicago, como o ‘Professor da Escola’, e a mãe, pianista de concerto, de a ‘Tocadora de Piano’.
Flash back on
Enquanto lhe proporcionava um passeio pelos jardins formais, fizera-a tropeçar “por acidente”, fazendo com que se esparramasse num imenso canteiro de rosas cheias de espinhos. Meia hora depois, quando Lauren havia trocado de vestido, pois aquele estava sujo e rasgado, Carter pedira desculpas e oferecera-se para mostrar-lhe os cães da família.
Parecia tão sincero e com uma ânsia tão infantil de mostrar-lhe os cachorros que, no mesmo instante, Lauren decidiu que o acidente com as roseiras devia ter sido de fato um acidente.
— Eu tenho um cão em casa — confiara com orgulho, apressando-se a segui-lo até o outro lado do cuidado gramado, do fundo da propriedade. — Chama-se Fluffy, e ela é branca — acrescentara, ao chegarem a uma sebe podada, que ocultava um enorme canil gradeado e trancado. Ela ficara radiante com os dois dobermans e depois com Carter, que retirava o pesado cadeado do portão. — A minha melhor amiga tem um doberman, que brinca connosco também.
— Esses dois também sabem lá os seus próprios truques — prometera o menino, abrindo o portão e afastando-se para deixá-la entrar.
Lauren entrou no cercado sem medo.
— Oi, cães. — disse baixinho, aproximando-se dos animais, silenciosos e vigilantes.
Ao estender a mão para acariciá-los, o portão bateu com força atrás de si e Carter, ríspido, deu a ordem, incisivamente:
— Agarrem, rapazes! Agarrem!
Na mesma hora, os dois cães se enrijeceram, mostraram os dentes e avançaram sobre Lauren, petrificada de medo.
— Carter! — ela gritou, recuando até dar com as costas na grade. — Por que é que eles estão a fazer isso?
— Se eu fosse a ti, não me mexeria — ele zombou com a voz sedosa do outro lado da cerca. — Se te mexeres, vão para cima da tua garganta.
Com isso, afastou-se assobiando alegremente.
— Não me deixes aqui! — gritou Lauren. — Por favor... não me deixes aqui!
Trinta minutos depois, quando o jardineiro a encontrou, ela já não gritava. Choramingava histérica, com os olhos fixos nos cães que rosnavam.
— Fora daqui! — gritou o homem, abrindo o portão e entrando furioso no canil. — Que foi que deu em ti, atiçando esses malditos cães? — repreendeu-a ríspido, pegando-a pelo braço e praticamente a arrastando para fora.
Quando fechou o portão, Lauren por fim registou alguma coisa na total falta de medo do sujeito, sentindo novamente as cordas vocais, antes paralisadas.
— Eles iam rasgar-me a garganta — murmurou rouca, as lágrimas a escorrerem pelas faces.
O jardineiro fixou os olhos azuis aterrorizados e perdeu a irritação da voz:
— Não a teriam magoado. Esses cães são treinados para dar alarme e assustar os intrusos, só isso. Sabem que não devem morder ninguém.
Lauren passou o resto da tarde esparramada na cama, pensando numa forma sangrenta de tirar a desforra com o pestinha, mas embora fosse muitíssimo prazeroso imaginá-lo de joelhos, implorando por misericórdia, todos os esquemas que imaginou eram para lá de impraticáveis.
Quando a sua mãe desceu para o jantar naquela noite, ela já se resignara quanto ao fato de que teria de engolir o orgulho e fingir que nada acontecera. Não adiantava queixar-se de Carter à mãe, pois Gina Danner era uma ítalo-americana que tinha profunda e sentimental devoção à família, por mais distante e obscura que fosse essa relação “familiar”. A mãe presumiria, caridosamente, que Carter apenas fizera uma brincadeira infantil.
— Teve um dia agradável, querida? — sua mãe perguntou, quando as duas desceram a escada curva rumo à sala de jantar.
— Tudo correu bem — murmurou Lauren, imaginando como ia conter a vontade de dar um belo pontapé em Carter Whitworth.
Ao pé da escada, uma criada anunciou que um certo senhor Robert Danner estava ao telefone.
— Vá em frente — disse Gina à filha, com um daqueles delicados sorrisos, ao estender a mão para atender o telefone.
Na porta arqueada da sala de jantar, Lauren hesitou. Sob a luz de um reluzente candelabro, a família Whitworth já estava sentada à imensa mesa.
— Eu falei bem claro à senhora Danner para descer às oito horas — dizia a mãe de Carter ao marido. — São oito e dois agora. Se não tem compreensão ou modos suficientes para ser pontual, comeremos sem ela.
Fez um curto aceno com a cabeça ao mordomo, que logo começou a servir a sopa nas frágeis tigelas de porcelana, dispostas em cada um dos lugares.
— Gordon, tolerei isso tanto quanto pude — prosseguiu a mulher —, mas me recuso a tolerar outros desses penetras aproveitadores em minha casa. — Girou a cabeça loura com um elegante penteado para a senhora mais idosa sentada à esquerda. — Senhora Whitworth, vai ter de parar com isso. A essa altura, sem dúvida, já reuniu dados suficientes para concluir o seu projecto.
— Se fosse assim, eu não precisaria ter essas pessoas aqui. Sei que são irritantes e mal-educadas, mas você vai ter de tolerá-las mais um pouco, Simone.
Lauren estava parada à porta, com uma centelha de rebelião nos tempestuosos olhos azuis. Uma coisa era ela ter sofrido humilhações nas mãos de Carter, mas não ia deixar aquela gente horrível e perversa ludibriar o seu brilhante pai e a sua bela e talentosa mãe!
Gina juntou-se à filha na entrada da sala de jantar.
— Desculpe tê-los feito esperar — disse, tomando a mão de Lauren.
Nenhum dos Whitworth se deu ao trabalho de responder; apenas continuaram a comer a sopa.
Tomada por uma súbita inspiração, Lauren lançou um rápido olhar à mãe, que desdobrava um guardanapo de linho e punha-o no colo. Abaixando a cabeça, juntou as mãos e, com sua voz infantil, entoou:
— Querido Senhor, pedimos a sua bênção sobre esta comida. E também que perdoeis os hipócritas que se julgam melhores que todos os demais apenas por terem mais dinheiro. Obrigada, Senhor. Amém.
Evitando meticulosamente o olhar da mãe, pegou a colher com toda a calma.
A sopa, pelo menos Lauren supôs que era isso, esfriara. O mordomo, de pé a um lado, viu-a largar a colher.
— Algum problema, senhorita?
— A minha sopa esfriou — ela explicou, enfrentando o olhar desdenhoso do criado.
— Menina, como você é ignorante! — exclamou Carter com uma risadinha, quando Lauren pegou seu pequeno copo de leite. — Isto é vichyssoise, sopa cremosa feita com batata e alho-porro, e deve ser comida fria.
O leite “escorregou” da mão dela e encharcou o jogo americano e o colo dele com um dilúvio branco gelado.
— Oh, eu sinto muito — disse ela, abafando um risinho ao vê-lo enxugar a roupa. — Não passou de um acidente... Carter, sabes como são os acidentes, não sabe? Devo contar a todos sobre o “acidente” que aconteceu hoje? — Ignorando o olhar homicida do menino, voltou-se para a família. — Carter sofreu muitos “acidentes” hoje. Tropeçou “acidentalmente” quando me mostrava o jardim e empurrou-me para cima das rosas. Depois, quando me mostrava os cães, por “acidente” trancou-me no canil e...
— Eu recuso-me a ouvir mais as suas acusações escandalosas e mal-educadas — cortou Simone Whitworth, o belo rosto frio e duro como gelo.
De algum modo, a menina encontrara coragem para enfrentar aquele olhar gélido sem pestanejar:
— Desculpe-me, senhora — disse com fingida mansidão. — Não percebi que era falta de educação falar do meu dia. — Com todos os Whitworth ainda a olhá-la, ela pegou a colher. — Claro — acrescentou pensativa —, eu também não sabia que eram boas maneiras chamar os convidados de penetras aproveitadores.
Flash back off
*Continua no proximo capitulo*
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Ufaaa *O*
Finaly !
Nih *w* sim, sim, deixa-me o URL do teu blog num coment que eu dou uma passada lá assim que tiver tempo ^^
E Bruninha DMV, logo que possa, já leio a fic *---*
Liebe :D podes postar a fic que eu depois apanho-te quando vier à net ^--^
Kiss*
Lindo *o*
ResponderEliminarA liebe é quem? :$
Beijinhos da mana
Oh, não te chateies com a fic xD
ResponderEliminarOh pá adorei o capítulo *.*
Porque é que não foi como a Cinderela? -.- Assim ficavam felizes para sempre xDD
Mais :3
Lovo-te <3