quarta-feira, 1 de agosto de 2012

A Pianist Spy - Capitulo 27 (Ultimo)


Capitulo 27
-Ultimo-


  — Senhor Kaulitz — a secretária em Chicago curvou-se ao lado de Bill e reduziu a voz a um sussurro, para evitar incomodar os outros grandes industriais americanos sentados ao redor da mesa de conferências, que discutiam os detalhes finais de um acordo de comércio internacional. — Lamento incomodá-lo, mas o Senhor James Williams está ao telefone e quer falar com o senhor.
  Bill assentiu com a cabeça e deslizou a cadeira para trás. Sete homens ergueram os olhos e encararam-no em irritada acusação. A não ser em questões de extrema urgência, nenhum deles recebia telefonemas. Durante o último encontro, e agora nesse, apenas Bill recebera uma ligação urgente, e na última vez a reunião teve de ser cancelada e uma nova data marcada porque ele os abandonara de repente.
Bill saiu da sala, oprimido pela lembrança da última vez que Jim o interrompera nessa reunião. Naquela ocasião, Jim inventara uma desculpa muito tola para telefonar, com a intenção de dizer que Lauren se demitira.
  — Sim, que foi? — perguntou ele, furioso com a lembrança dela e da dor que sempre acompanhava essa lembrança.
  — Está a acontecer uma enorme comemoração aqui no departamento de Engenharia — começou Jim, a voz hesitante e confusa. — Bill, embora Lauren tenha dado a Gordon as cópias das nossas quatro propostas, acabamos de ganhar dois dos quatro contratos. Os concorrentes com lances inferiores dos dois outros contratos ainda não foram anunciados. — Parou, evidentemente à espera de resposta. — Não consigo entender o que aconteceu... O que é que achas?
  — Acho — rosnou Bill — que aquele canalha idiota não é inteligente o bastante para ganhar uma rodada de pôquer nem com um baralho de cartas marcadas.
  — Gordon é desonesto, ardiloso e qualquer outra coisa, menos idiota — contestou Jim. — Acho que vou ver o arquivo com Jack Collins na segurança e verificar os números que Lauren...
  — Eu já disse o que quero que faça — interrompeu-o Bill, a voz baixa, letal. — Independentemente de quem ganhe os dois contratos restantes, quero que a K’s entre na concorrência de qualquer projeto que Gordon entre, e quero que ponha uma quantia inferior ao nosso custo, se necessário. Quero aquele canalha fora do mercado em um ano!
  Desligou o telefone e voltou à sala de conferências. O presidente do comitê olhou-o com reprovação mal disfarçada pela interrupção.
  — Agora, podemos recomeçar?
  Bill balançou a cabeça numa brusca afirmativa. Votou com todo o cuidado nas três questões seguintes, mas quando a manhã foi passando e a tarde chegando; a tarde escurecendo, dando início à noite, tornou-se cada vez mais difícil pensar em outra coisa senão em Lauren. A neve caía do lado de fora das janelas do arranha-céu de Chicago enquanto a reunião tinha seguimento, e a voz indignada de Tony retornou-lhe à mente... “Colocaste-a na rua sem casaco, dinheiro, sem nada, e ela telefonou para Whitworth? Não, andou oito quadras no frio e na chuva para desabar nos meus braços.”
“Oito quadras! Por que os guardas não a haviam deixado voltar para agarrar o casaco?” Lembrou-se da fina blusa que ela vestia, porque a desabotoara com toda a intenção de expô-la e degradá-la, exatamente como acontecera. Lembrou-se da absoluta perfeição dos seios macios, a incrível suavidade da pele, o refinado gosto dos lábios, a forma como o beijara e agarrara-se a ele...
  — Bill — interpelou-o o presidente com severidade. — Suponho que seja a favor dessa proposta.
  Bill desprendeu os olhos das janelas. Não tinha a menor ideia de qual proposta debatiam.
  — Eu gostaria de saber mais do que se trata antes de decidir — disfarçou.
  Sete rostos surpresos se voltaram para ele.
  — É a sua proposta, Bill — repreendeu o presidente. — Você escreveu-a.
  — Então é claro que sou a favor — ele informou-os num tom frio.
  O comitê jantou em grupo num dos mais elegantes restaurantes de Chicago. Tão logo terminou a refeição, Bill pediu de repente licença para retornar ao hotel. A neve caía em flocos espessos, polvilhava-lhe o sobretudo de cashmere cor de canela e grudava-se na cabeça descoberta enquanto ele percorria a avenida Michigan de Chicago, lançando olhares desinteressados às lojas exclusivas onde as vitrinas com brilhante iluminação haviam sido decoradas para o Natal.
  Enfiou as mãos nos bolsos e amaldiçoou Jim por telefonar-lhe aquela manhã para falar de Lauren, e a ela própria por entrar em na sua vida. Por que ela não ligara para Whitworth para ir buscá-la quando os guardas a retiraram à força do prédio da K’s? Por que caminhara oito quadras naquela temperatura congelante para ir ao encontro de Tony?
  Depois que a magoara e degradara, por que chorara aos seus pés como um anjo inconsolável? Bill parou para pegar um cigarro do maço e enfiou-o na boca. Curvando a cabeça, envolveu as mãos em torno da chama e acendeu-o. A voz de Lauren flutuava-lhe na mente, sufocada por soluços muito pesarosos. “Eu amo-te tanto”, chorara. “Por favor, ouve-me... Por favor, não faças isso connosco...”
  Fúria e dor colocaram-no em chamas. Ele não podia aceitá-la de volta, lembrou a si mesmo com violência. Jamais a aceitaria de volta.
  Dispunha-se a acreditar que Whitworth a chantageara para passar-lhe as quantias propostas. Dispunha-se até a acreditar que ela não lhe contara sobre o projeto Rossi. Afinal, se tivesse contado, os homens de Whitworth não teriam procurado em toda a aldeia fazendo perguntas sobre Bill... teriam perguntado sobre Rossi. Parece que nem sabiam o nome do químico. Mesmo que o encontrassem, não teria importância. Os testes de laboratório haviam provado que a fórmula de Rossi tinha apenas uma fração da eficácia que afirmara o sujeito, além de ser irritante à pele e aos olhos.
  Bill parou no sinal da esquina, onde viu um homem vestido numa fantasia vermelha brilhante de Pai Natal em pé ao lado de um pote de ferro preto e a tocar um sino. O Natal nunca fora uma ocasião muito agradável para ele. Era uma festa que, sem exceção, fazia com que se lembrasse da visita que fizera à mãe na infância; de fato, jamais pensava nela, a não ser na época natalina.
  Carros passavam por ele, os pneus triturando a neve fresca. Este Natal poderia ter sido diferente; poderia ter sido um começo. Levaria Lauren à Suíça. Não... Passaria em casa com ela. Acenderia um crepitante fogo na lareira e os dois poderiam iniciar as próprias tradições. Fariam amor diante do fogo, com as luzes da árvore de Natal cintilando na pele acetinada dela...
  Furioso, Bill desligou a mente desses pensamentos e atravessou a rua de forma temerária, ignorando as buzinas que troavam protestos, e os faróis que avançavam em sua direção. Não haveria Natais com Lauren. Desejava-a com bastante desespero para perdoá-la por quase tudo, mas não podia, não queria perdoar nem esquecer o fato de que ela o traíra com a mãe e o padrasto. Talvez com o tempo a perdoasse por ter conspirado contra ele, mas não com os Whitworth. Jamais com eles.
  Bill enfiou a chave nas portas duplas da suíte no último andar.
  — Onde, raios, é que andou? — perguntou Jim do sofá no qual se refestelara com os pés apoiados numa antiga mesa de centro. — Vim falar das propostas que Lauren passou ao Gordon.
  Bill despiu o sobretudo, furioso por ter a suíte invadida, a intimidade infringida e em especial por ser forçado — mesmo pelo momento que ia levar para fazer o amigo dar o fora dali — a falar mais uma vez sobre Lauren.
  — Eu já disse — saiu a mesma voz baixa, letal — que quero o Gordon fora do mercado, e também já disse como quero isso feito. Quando explicou sua participação como cúmplice dela, eu desculpei, mas não irei...
  — Não precisas te preocupar em pôr o Gordon Whitworth fora do mercado — interrompeu Jim, tranquilo, quando o outro avançou em sua direção. — Lauren está a fazer isso por ti. — No sofá ao lado, pegou as cópias das propostas originais e as alteradas que Lauren fizera para dar a Whitworth. — Ela mudou os números, Bill — declarou sombrio.
 
  A reunião do comitê de comércio internacional reiniciou os debates às nove horas em ponto na manhã seguinte. O presidente do comitê olhou para os seis homens sentados ao redor da mesa de conferências.
  — Bill Kaulitz não comparecerá hoje — informou ao grupo com expressão tempestuosa. — Pediu-me que expressasse seu pesar e explicasse que foi convocado de volta para resolver um problema urgente.
  Em uníssono, seis rostos indignados se voltaram para encarar com impotente hostilidade a cadeira vazia do membro ausente.
  — Da última vez, foi um problema de relações trabalhistas. Qual é o problema de Kaulitz agora? — perguntou um homem de queixo duplo, irritado.
  — Uma fusão de empresas — respondeu o presidente. — Ele disse que ia tentar negociar a mais importante fusão empresarial da sua vida.

  Um novo tapete de neve cobria Fenster, no Missouri. Esse cenário trouxe a Bill a lembrança muito dolorosa do pudor inicial de Lauren em relação a sexo.
  Ajudado pelas indicações que um velho taciturno lhe dera poucos minutos antes, ele não teve a menor dificuldade para encontrar a rua tranquila onde Lauren fora criada. Encostou o carro diante de uma modesta casa de estrutura branca com um balanço na varanda e um enorme carvalho no jardim da frente, e desligou a ignição do carro que alugara no aeroporto cinco longas horas antes.
  A viagem lenta e traiçoeira pelas rodovias cobertas de neve fora a parte fácil; enfrentar Lauren ia ser a difícil.
  Bateu à porta e foi logo atendido por um jovem magro, porém musculoso, de vinte e poucos anos. O coração do recém-chegado afundou. Jamais, mesmo nas piores imaginações durante o trajeto até ali, lhe passara pela mente a possibilidade de ela ter outro homem.
  — O meu nome é Bill Kaulitz — disse e viu o curioso sorriso do jovem mudar para franca animosidade. — Eu gostaria de ver Lauren.
  — Sou o irmão dela — respondeu o rapaz — e ela não o quer ver.
  Irmão! Ao momentâneo alívio de Bill, seguiu-se um impulso absurdo de esmagar-lhe o rosto por ele ter roubado as mesadas de Lauren quando ela era menina.
  — Vim vê-la — declarou num tom implacável — e se tiver de passar por cima de si para chegar até ela, eu farei isso.
  — Acho que está a falar sério, Leonard — interveio o pai de Lauren, chegando ao vestíbulo, o dedo num livro fechado que estivera lendo.
  Por um longo momento, Robert Danner examinou o homem alto, indômito, no vão da porta, com os penetrantes olhos observando os vincos de extenuação e tensão gravados fundo nas feições do visitante. Um fraco e relutante sorriso suavizou a linha severa da boca do senhor Danner.
  — Leonard — disse tranquilamente —, que tal a gente dar ao senhor Kaulitz cinco minutos com a Lauren, para ver se ele consegue fazê-la mudar de ideia. Ela está na sala — acrescentou, inclinando a cabeça para trás na direção dos alegres cânticos de Natal que saíam do estéreo.
  — Cinco minutos e só — grunhiu Leonard, seguindo direto atrás de Bill, que se virou para ele.
  — Sozinho — declarou com determinação.
  O rapaz abriu a boca para se opor, mas o pai interveio de novo:
  — Sozinho, Leonard.
  Bill fechou em silêncio a porta da alegre salinha, avançou dois passos e parou, com o coração martelando descontrolado no peito.
  Em cima do degrau de uma escada portátil, Lauren pendurava enfeites cintilantes nos galhos superiores de uma árvore de Natal. Comoveu-o ao extremo vê-la parecer tão jovem, de calça de ganga justa, camisola verde-claro, e tão linda com os cabelos que lhe caíam em ondas cor de mel queimado sobre os ombros e as costas.
  Ele sentiu um ansioso desejo de puxá-la da escada para os seus braços, levá-la até o sofá e perder-se nela, beijá-la, abraçá-la, e curar com o corpo, as mãos e a boca a dor dela.
  Descendo da escada, Lauren ajoelhou-se para pegar mais enfeites na caixa ao lado dos festivos pacotes embrulhados sob a árvore. Pelo canto dos olhos, vislumbrou um par de sapatos masculinos.
  — Lenny, o teu ritmo de trabalho é fantástico — provocou, em voz baixa. — Eu já terminei. Achas que a estrela fica bonita em cima ou eu devo ir ao sótão agarrar o anjo?
  — Deixa a estrela em cima — respondeu uma voz grave, que desprendia dolorosa delicadeza. — Já há um anjo na sala.
  Lauren girou a cabeça de repente, o seu olhar cravado no homem alto e solene parado a poucos passos. A cor esvaiu-se do seu rosto quando a sua mente registrou a determinação esculpida em cada feição masculina, desde as retas sobrancelhas escuras á dura projeção do queixo e do maxilar. De cada linha daquele corpo multas vezes lembrado emanavam riqueza, poder e o mesmo irresistível magnetismo de que Lauren fugia nos sonhos à noite.
  As mesmas feições que lhe haviam ficado gravadas a fogo na mente; lembrava perfeitamente. Também lembrava a última vez que o vira: achava-se ajoelhada então como agora... chorando aos pés dele. Humilhação e fúria fizeram-na levantar-se de um salto.
  — Saia daqui! — fulminou, cega demais pelo próprio tormento para ver o remorso torturado, a dor que escurecia os olhos cinza.
  Em vez de sair, ele adiantou-se na direção dela, que recuou um passo e manteve-se firme, o corpo todo tremendo com explosiva violência. Bill estendeu-lhe a mão, e Lauren girou o braço, dando-lhe com toda a força uma chapada no rosto.
  — Eu o mandei sair! — Sibilou. Como ele não se mexeu, Lauren levantou de novo a mão numa ensandecida ameaça: — Que o Diabo o carregue! Fora daqui!
  Ele ergueu o olhar para a palma da mão levantada.
  — Vai em frente — disse, com delicadeza.
  Tremendo de raiva, frustrada, ela baixou com força a mão, passou os braços ao redor da barriga e deslocou-se de lado para escapar, tentando contornar a árvore, afastar-se dele e sair da sala.
  — Lauren, espera... — Bill interpôs-se no caminho e estendeu a mão para alcançá-la.
  — Não me toque! — Gritou ela e encolheu-se como uma louca para longe da mão estendida.
  Continuou seguindo de lado para dar os três passos restantes que lhe possibilitariam contorná-lo e sair da sala.
  Bill estava disposto a permitir-lhe fazer qualquer coisa, qualquer coisa com ele, menos abandoná-lo. Isso não podia permitir.
  — Lauren, por favor, deixa-me...
  — Não! — ela gritou histérica. — Fique longe de mim! — Tentou correr e Bill segurou-a pelos braços. Virou-se para ele como uma gata selvagem, demente, aos prantos, lutando com ferocidade e agredindo-o.
  — Seu estupido! — gritou de dor, enlouquecida e histérica, dando-lhe socos no peito e ombros. — Seu estupido! Eu implorei de joelhos!
  Bill precisou de toda a sua força para segurá-la, até Lauren acabar por extravasar a fúria e desabar contra ele, o corpo esbelto fustigado por violentos soluços.
  — Fizeste-me implorar... — chorava, o pranto fragmentado, nos braços dele — ... Fizeste-me implorar.
  As lágrimas varavam o coração de Bill, e as palavras cortavam-no como facas. Segurava-a, fitando sem ver à frente, lembrava-se da linda e risonha rapariga que entrara na sua vida e virara-a de cabeça para baixo com o sempre radiante sorriso.
  “O que me acontece se esta sandália se encaixar?”
  “Eu transformo-o num belo sapo.”
  O remorso aguilhoou os olhos de Bill, obrigando-o a fechá-los.
  — Perdoa-me — sussurrou enrouquecido. — Eu sinto muito, muito mesmo.
  Lauren sentiu a dor brutal naquela voz, e sentiu a parede de entorpecimento congelado que erguera ao redor de si começar a derreter-se. Lutou para bloquear da mente a extraordinária beleza de estar mais uma vez nos braços dele, de ser apertada contra aquele corpo grande e forte.
  Nas solitárias semanas de noites insones e dias de desolada raiva, chegara à tranquila conclusão de que Bill tinha um incurável cinismo e insensibilidade. O abandono da mãe fizera-o dessa forma, e nada do que ela tentasse fazer jamais conseguiria mudá-lo. Ele sempre continuaria a excluí-la da sua vida e a afastar-se friamente dela, porque nunca a amaria de verdade.
  Aprendera aos cinco anos que não confiaria o coração a uma mulher. Ofereceria a Lauren o corpo, a afeição... Porém, nada além disso. Nunca se permitiria deixar-se mais uma vez inteiramente vulnerável.
  No momento, Bill deslizava as mãos pelas suas costas, acima e abaixo, num gesto de impotente conforto, espalhando calor em todos os lugares onde a tocava. Juntando os últimos vestígios de autocontrolo, Lauren libertou-se com firmeza do domínio dos braços dele.
  — Estou bem agora. A sério. — Dirigiu o olhar aos insondáveis olhos dele e pediu com toda a calma: — Quero que vás agora, Bill.
  Ele enrijeceu o maxilar e retesou o corpo todo ao ouvir a objetividade tranquila e mortal naquela voz, mas, em vez de ir embora, pareceu bloquear aquelas palavras da mente, como se ela houvesse falado numa língua que ele não entendia. Ainda com os olhos cravados nos dela, enfiou a mão no bolso do casaco e retirou uma caixa embrulhada em papel prateado.
  — Comprei um presente para ti — disse.
  Lauren encarou-o.
  — Como?
  — Toma. — Entregou-a, erguendo-lhe a mão e pondo a caixa ali. — É um presente de Natal. Para ti... por favor, abre logo.
  As palavras de Mary de repente ressoaram pela mente de Lauren, cujo corpo começou a tremer todo. “Ele pretendia subornar a mãe, a fim de fazê-la voltar para ele... Deu-lhe o presente... e insistiu que o abrisse logo...”
  — Abre-o agora, Lauren — pediu ele.
   Teve o cuidado de manter o rosto inexpressivo, mas ela viu o desespero nos olhos dele, a rígida tensão nos vigorosos ombros e soube que Bill esperava que ela rejeitasse o seu presente. E a ele.
  Lauren desprendeu os olhos daquele olhar e, trêmula, retirou o papel prateado do estojo de veludo, que exibia o nome em discreto relevo de uma joalharia de Chicago, seguido pelo de um hotel da mesma cidade. Abriu o fecho. O leito de veludo branco na base continha um espetacular pingente de rubi circundado por uma fileira de diamantes estonteantes. O magnífico pingente tinha, fácil, o tamanho de uma caixinha de comprimidos.
  Tratava-se de um suborno.
  Pela segunda vez na vida, Bill tentava subornar uma mulher para fazê-la voltar. Lágrimas de ternura encheram os olhos de Lauren e um afeto imenso transpassou-lhe o coração.
  A voz dele saiu rouca e embargada, como se as palavras lhe fossem arrancadas:
— Por favor — sussurrou. — Por favor... — Puxou-a para os braços, esmagou-a contra seu magro e forte corpo e enterrou o rosto nos cabelos dela. — Ah, por favor, querida...
  As defesas de Lauren desmoronaram por completo.
  — Eu amo-te! — ela disse, com a voz entrecortada, enlaçou os braços com força no pescoço dele, deslizou as mãos pelos músculos retesados dos ombros e afagou os volumosos cabelos escuros.
  — Comprei brincos para ti também — seduziu-a, ainda com a voz rouca e urgente. — Comprarei um piano... disseram na faculdade que eras uma pianista talentosa. Gostarias de um de cauda ou preferes um de...
  — Não faças isso! — gritou angustiada quando se ergueu nas pontas dos pés e silenciou-o com os lábios.
  Um tremor percorreu o corpo de Bill, que a abraçou, abrindo com a sua boca a dela com desesperada ânsia, moveu as mãos pelas costas e a lateral dos seios, e depois as desceu mais, puxando os quadris para grudá-los nos seus, como se quisesse absorver com o seu corpo o dela.
  — Senti tanto a tua falta — sussurrou, tentando suavizar o beijo, movendo a boca nos lábios separados dela com uma ânsia afetuosa, enternecedora, quando afundou devagar a mão nos espessos cabelos na nuca. Mas o controle desfez-se quase no mesmo instante, e com um gemido Bill apertou a mão e mergulhou a língua na boca de Lauren com urgência feroz, compulsiva.
  Ela retribuiu-lhe o beijo com todo o amor dolorido, que lhe irrompia do coração, arqueando-se mais para perto dele e segurando-o colado a si.
  Um infindável tempo depois, retornou à realidade, os braços ainda enlaçados nele, a face apertada contra o violento martelar do coração dele.
  — Eu amo-te — sussurrou ele e, antes que ela pudesse responder, continuou numa voz que era em parte suplicante e em parte provocante: — Tens de casar comigo. Acho que acabei de ser excluído da votação no comitê de comércio internacional... os participantes consideram-me instável. E o Tony riscou-me da lista dele. Mary disse que se demitirá se eu não a levar de volta. Ericka encontrou os brincos que eram da tua mãe e entregou-os ao Jim, que me pediu para lhe dizer que não vai devolvê-los a ti, a não ser que voltes para eles...

***
  Minúsculas luzes coloridas cintilavam da árvore de Natal na imensa sala de estar. Estendido no tapete diante da lareira, Bill embalava a esposa adormecida na dobra do braço e contemplava a luz do fogo que dançava nas ondas revoltas dos cabelos espalhados pelo seu peito nu. Já eram casados fazia três dias.
  Lauren mexeu-se, aproximando-se mais dele, em busca de calor. Com cuidado para não incomodá-la, puxou a colcha de cetim em volta dos ombros dela. Reverente, tocou-lhe a face com o dedo, traçando a elegante curva. Lauren trouxera-lhe alegria à vida e risos ao lar. Achava-o lindo e, quando o olhava, ele se sentia lindo.
  Em algum lugar, em outra parte da imensa casa, um relógio começou a soar meia-noite. As pálpebras de Lauren adejaram e ela despertou. Bill olhou dentro daqueles fascinantes olhos azuis.
  — É Natal — sussurrou.
  A sua esposa sorriu-lhe e as suas palavras causaram-lhe um aperto na garganta:
  — Não — disse ela baixinho, envolvendo os dedos no queixo de Bill. — Já é Natal há três dias.

-Fim-

2 comentários:

  1. Que lindo +.+
    está mesmo muito bom, adorei!
    Espero ler outra a seguir ;D
    Beijinhos

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  2. Oh meu deus, que lindo *-*
    Adorei, Phi, adorei *-*

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