Capitulo 9
“Que hora mais estranha para ligar para outra mulher”, pensou. Ou não seria isso? Bill dissera que os anfitriões esperavam que levasse um amigo, e ele, sem dúvida, teria dado um jeito de chamar alguém muito antes desse dia. Estava a cancelar um encontro!
Bill entrou no desportivo Audi dela, ligou a ignição e franziu a cara quando a luz de aviso da bateria surgiu no painel.
— Acho que não tem nada de errado com a bateria — apressou-se a explicar Lauren. — A caminho daqui, parei e mandei um mecânico verificar. Ele não encontrou nada de errado, por isso talvez seja apenas um curto-circuito na própria luz de aviso. O carro só tem seis meses.
— Que tal o levarmos ao norte e ver como ele se sai? — perguntou Bill após uma curta pausa. — Assim tu não ficarás sozinha na estrada a caminho do Missouri, se o gerador realmente morrer.
— Maravilhoso! — ela agradeceu prontamente.
— Fala-me mais de tua família e de ti — ele pediu, quando saíram do estacionamento.
Lauren virou o rosto para a frente, tentando não mostrar tensão. A pequena trama de mentiras que tecera já se tornava maior e mais enredada. Como Bill conhecia gente na K’s, e ela, de propósito, não mencionara o diploma universitário no formulário, hesitava em falar-lhe que estivera na faculdade nos últimos cinco anos. Olhando o esplêndido Centro Renascença, deu um suspiro. Sendo uma pessoa naturalmente honesta, já lhe mentira sobre a idade, pois na verdade só faria vinte e três dali a mais três semanas. E dissera a Tony, na frente dele, que não tinha amigos nem parentes em Detroit. Agora ia tomar o cuidado de “esquecer” os últimos cinco anos da sua vida.
— Foi uma pergunta difícil? — Bill brincou.
O sorriso dele fazia coisas malucas com as batidas do seu coração. Ela queria erguer a mão, encostá-la no queixo firme e traçar a linha daqueles lábios sensuais. Observou a gola da camisa aberta no pescoço, o que a fazia querer tocar a pele que ali aparecia. Até o cheiro da colónia provocava seus sentidos, convidando-a a chegar mais perto.
— Não há muita coisa a contar. O meu meio-irmão, Lenny, já fez vinte e quatro anos, está casado e a começar a própria família. E Melissa fez vinte e cinco e casou-se em Abril. O marido é um mecânico que trabalha na concessionária da Pontiac, onde comprei este carro.
— E o teu pai e tua madrasta?
— O meu pai é professor. Brilhante e sábio. A minha madrasta é muito amorosa e completamente dedicada a ele.
— Se o teu pai é professor, surpreende-me que não te tenha estimulado a continuar na faculdade, em vez de deixá-la trabalhar como secretária.
— Ele estimulou… — respondeu Lauren, sem olhar nos olhos dele, aliviadíssima quando ele se viu obrigado a voltar a atenção para a complicada mudança de pistas, e com a ampla curva que os levou até a rampa de entrada da Interestadual 75. A via expressa conduziu-os pelo interior da cidade antes que o cenário mudasse, passando de fábricas e habitações urbanas para casinhas suburbanas, seguidas por um imenso shopping e bairros residenciais muito mais opulentos.
— E tuas roupas? — ela perguntou de repente. — Não vais precisar de uma mochila ou mala?
— Não. Mantenho algumas roupas em outra casa em Harbor Springs.
As três horas seguintes passaram-se num delicioso borrão. O carro devorava os quilómetros, mandando uma balsâmica brisa tocar-lhes os rostos e despentear-lhes os cabelos, e os dois conversavam com camaradagem sobre tudo e nada.
Bill, notou Lauren, era extremamente evasivo quando se tratava de falar sobre ele mesmo, mas sem dúvida insaciável quando se tratava de sondar as origens dela. Tudo o que sabia dele era que o pai morrera quando Bill tinha quatro anos, e os avós, que o haviam criado, morreram alguns anos atrás.
Na cidade de Grayling, que Bill disse ficar a cerca de uma hora e meia do destino final — Harbor Springs — ele parou numa pequena mercearia. Quando voltou, Lauren viu-o trazer duas latas de Coca-Cola e um maço de cigarros. Alguns quilómetros mais adiante, encostou junto a uma mesa de piquenique à beira da estrada.
— Não é um dia deslumbrante?
Deliciada, Lauren lançou a cabeça para trás e apreciou as nuvens brancas que atravessavam o brilhante céu azul. Olhou para Bill de relance e viu-o observando-a com uma expressão indulgente.
Ignorando essa atitude, ela disse:
— Na minha terra o céu nunca é assim tão azul, e faz muito mais calor. Acho que é porque o Missouri fica mais ao sul.
Bill abriu as latas de Coca e entregou-lhe uma. Encostou casualmente o quadril na mesa de piquenique, e Lauren tentou retomar a conversa do ponto em que fora interrompida alguns minutos atrás:
— Disseste que o teu pai morreu quando tinhas quatro anos, e os teus avós te criaram... o que aconteceu com a tua mãe?
— Nada — ele respondeu.
Pondo um cigarro entre os lábios, acendeu um fósforo e colocou as mãos em torno da chama para protegê-la da brisa.
— Bill, por que falas tão pouco sobre ti mesmo? — Ele apertou os olhos para fugir da fumaça aromática do cigarro que subia, dispersando-se ao vento.
— Tão pouco? Estive a falar pelos cotovelos durante centenas de quilómetros.
— Mas não sobre alguma coisa realmente pessoal. Que se passou com a tua mãe?
Ele sorriu.
— Alguém já te disse que tu tem olhos incrivelmente bonitos?
— Já, e tu está desviando o assunto!
— E que também falas extremamente bem? — ele continuou, ignorando a observação.
— Isso não surpreende, pois o meu pai é professor de inglês, como já descobris-te.
Então, deu um suspiro, exasperada com essa evasão deliberada.
Bill ergueu o olhar para o céu e deixou-o vagar pelas árvores e a estrada deserta, antes de por fim tornar a olhar para ela.
— Só percebi como estava tenso três horas atrás, quando afinal comecei a relaxar. Precisava dar uma fugida assim.
— Estás a trabalhar muito?
— Cerca de setenta horas por semana nos últimos dois meses. — Os olhos expressivos dela encheram-se de simpatia, e Bill deu-lhe um daqueles sorrisos cordiais e cativantes que a deixou com o coração acelerado. — Tu sabias que és uma companhia muito relaxante?
Lauren não ficou satisfeita em particular por saber que, enquanto o achava electrizante, ele a achava relaxante.
— Obrigada, vou tentar não fazer-te dormir antes de chegarmos a Harbor Springs.
— Podes fazer isso depois de chegarmos — veio a sugestiva resposta.
O coração da Lauren bateu a toda força.
— O que eu quis dizer; é que espero não te estar a chatear.
— Acredita, não me chateias nem um pouco. — A voz dele aprofundou-se com sensualidade: — Na verdade, estou a querer fazer uma coisa desde ontem à noite, quando me virei com o teu copo de tónica na mão e te vi ali parada, fazendo muita força para não rir do meu choque.
Mesmo no estado de nervosismo em que se encontrava, Lauren soube que ele pretendia beijá-la. Ele tomou-lhe a Coca de seus dedos fracos e colocou-a com toda a calma na mesa de piquenique ao lado, estendeu os braços, puxando-a deliberadamente para entre suas pernas. Ela roçou o quadril na parte interna da coxa dele, enviando ondas de assustada consciência por todo o seu sistema nervoso. Ele deslizou-lhe as mãos pelos braços e de forma muito delicada aprisionou-lhe os ombros. Em impotente antecipação, ela viu os lábios firmes e sensuais descendo devagar para irem de encontro aos seus.
Bill cobriu com a sua boca, a dela, movendo-a e sondando num beijo de ociosa bajulação, mas com uma insistência de tirar o fôlego. Lauren tentou, em desespero, agarrar-se a sua sanidade que fugia, mas no momento em que ele deslizou a língua entre os seus lábios, sentiu que perdera a batalha.
Com um gemido abafado, encostou-se nele e deixou que lhe abrisse os lábios. A reacção dele foi instantânea. Apertou os braços, prendendo-a contra o peito, enquanto abria a boca faminta e mergulhava-lhe a língua, acariciando a dela. Alguma coisa explodiu dentro de Lauren, que arqueou o corpo contra o dele e ergueu as mãos em compulsão para acariciar-lhe o pescoço e deslizá-las entre os cabelos macios na nuca dele, enquanto reagia com avidez àquela boca faminta.
Quando Bill por fim ergueu a cabeça, ela sentiu-se marcada a ferro por aquele beijo, marcada permanentemente como propriedade dele. Trémula num tumulto interno, apoiou a testa no ombro dele. Os lábios quentes desceram-lhe pela face, correram para baixo, mordendo de leve o lóbulo da orelha dela.
Dando uma risada, ele disse a ela, ao pé do ouvido:
— Acho que te devo um pedido de desculpas, Lauren.
Ela encostou-se no peito de Bill e tornou a erguer o olhar.
Os nublados olhos cor de mel que a miraram de volta, tinham pálpebras pesadas e ardiam de paixão, e embora ele sorrisse, era um sorriso irónico que zombava de si mesmo.
— Por que me deves um pedido de desculpas?
Bill deslizou a mão acima e abaixo das costas dela numa preguiçosa carícia.
— Porque, apesar de teres me garantido que não és ingénua, até alguns minutos atrás eu receava que este fim-de-semana fosse mais do que tu podias dar conta... e mais do que tu esperavas.
Ainda estonteada pelo beijo, Lauren perguntou baixinho:
— E agora, que achas?
— Acho — murmurou secamente — que este fim-de-semana pode tornar-se mais do que eu esperava. — Olhou dentro dos fulgentes olhos azuis dela, os próprios escurecidos em resposta. — Também acho que, se continuares a olhar-me desse modo, vamos nos atrasar cerca de duas horas para chegar a Harbor Springs.
Piscou os olhos, apontando com um olhar significativo para o motel do outro lado da estrada, mas, antes que Lauren ao menos pensasse em entrar em pânico, estendeu a mão e puxou-lhe com firmeza os óculos escuros pelo nariz abaixo.
— Esses teus olhos vão ser a minha desgraça — disse com um humor sombrio. Depois pegou-a pelo braço e levou-a até o carro.
Lauren desabou no assento, sentindo-se como se houvesse acabado de passar por um ciclone. O motor do carro rugiu ao ganhar vida, e ela obrigou-se a relaxar e pensar com lógica. Tinha dois problemas imediatos a enfrentar: primeiro, já ficara óbvio que Bill pretendia levá-la para a cama nesse fim-de-semana. Na mente dele, tratava-se de um desfecho previsto. Claro, ela podia simplesmente dizer não quando chegasse a hora, mas, o segundo problema, era que não tinha certeza alguma de que queria dizer não. Jamais antes se sentira tão atraída por um homem, nem afectada por um beijo. Jamais quisera tanto fazer amor com um homem.
Olhou as mãos fortes e ágeis do Bill ao volante, depois ergueu os olhos para aquele perfil tão forte e bonito. Ele era tão atraente, de uma virilidade tão gritante, que as mulheres sem dúvida davam-lhe uma olhada e iam ávidas para a cama com ele sem jamais esperar qualquer envolvimento emocional. Com certeza ela própria não seria uma conquista tão fácil. Ou seria?
Um triste sorriso tocou-lhe os lábios quando ela voltou a cabeça para a janela. Todos sempre a julgavam muito inteligente, muito sensível, mas ali estava, já planejando fazer Bill Kaulitz apaixonar-se... pois ela sabia que já estava a apaixonar-se por ele.
— Lauren, esta viagem está a tornar-se um pouco solitária do meu lado do carro. Em que estás a pensar?
Cheia de ideias sobre o destino dos dois, ela voltou-se e, sorridente, balançou devagar a cabeça.
— Se eu te dissesse, ia matar-te de medo.
***
Lauren deslizou o olhar com admiração pelo panorama das ondas azuis cintilantes do lago Michigan que se avolumavam e espumavam brancas ao rebentar indolentes na praia.
— Chegaremos lá em alguns minutos — disse-lhe Bill.
Vários minutos depois, virou à esquerda num acesso de veículos asfaltado e sem identificação. Por mais de um quilómetro, o caminho da entrada particular ziguezagueava gracioso por entre majestosas clareiras florestais, de cujos galhos carregados pendiam cachos magníficos de frutos laranja vivo.
Lauren olhou para a paisagem bem cuidada nos dois lados da estrada e percebeu que o chalé simples, próximo ao lago, que a princípio imaginara quando ele a convidara para o fim-de-semana, não ia ser o que encontraria. Nada a preparara, porém, para a visão que a saudou quando saíram das sombras matizadas para o brilho dourado do sol poente e pararam atrás de uma longa fileira de opulentos carros estacionados.
Ao longe, contra o pano de fundo de um íngreme penhasco, avistava-se uma imensa casa em estilo moderno, com três andares de estuque e vidro. Hectares de exuberantes gramados verdes, pontilhados por mesas com guarda-sóis coloridos, inclinavam-se suavemente até uma praia. Garçons de fato azul-claro passavam bandejas entre o que parecia no mínimo uma centena de convidados, refastelados em espreguiçadeiras ao redor de uma gigantesca piscina em forma de feijão, conversando e rindo em grupos animados na relva, ou passeando na praia.
Bill saltou do carro e contornou-o para abrir a porta dela. Com a mão no seu cotovelo, Lauren não teve outra opção senão caminhar ao lado dele ao longo da sinuosa fileira de possantes desportivos e luxuosos carros de passeio em direcção aos grupos de convidados.
À beira da relva, parou e observou as pessoas com quem ia se misturar. Além de vários astros e estrelas de cinema, distinguiu outros rostos vagamente conhecidos, os que via repetidas vezes em matérias de revistas sobre a alta sociedade e os multimilionários.
Deu uma olhada no Bill, que examinava vagarosamente a multidão. Ele não parecia impressionado nem intimidado por aquela resplandecente reunião dos ricos e famosos; na verdade, parecia irritado. Quando falou, a sua voz saiu marcada pela mesma chateação que ela identificara na expressão do seu rosto:
— Lamento, Lauren. Se eu soubesse que a “reunião” da Tracy ia ser assim, jamais te teria trazido aqui. Vai ser barulhenta, abarrotada de gente e frenética.
Embora se sentisse pouco á vontade cercada por pessoas tão famosas, ela conseguiu ostentar um ar de indiferença e lançou-lhe um sorriso animado.
— Talvez, se tivermos sorte, ninguém perceba que estamos aqui.
— Não contes com isso — advertiu Bill, seco.
Seguiram sem pressa pelo perímetro da relva circundada por uma mata densa. Ao chegarem a um bar instalado para uso dos convidados, ele parou atrás do balcão. Em vez de observá-lo como uma idiota apatetada, enquanto ele lhes preparava as bebidas, Lauren forçou-se a virar-se e observar os arredores. Concentrava-se num grupo que conversava perto deles, quando uma ruiva deslumbrante ergueu o olhar e reconheceu Bill.
Com um sorriso irrompendo nas perfeitas feições, a mulher deixou os amigos e correu em direcção aos dois.
— Bill, querido! — disse, rindo e já deslizando as mãos adornadas com anéis pelos braços dele acima, ao curvar-se para beijá-lo.
Bill largou a garrafa de bebida e enlaçou os braços nela, puxando-a para retribuir o beijo.
Mesmo depois que a soltou, Lauren notou que a ruiva continuou com as mãos nos braços dele, enquanto lhe sorria calorosa com os olhos fixos nos olhos dele.
— Toda a gente se perguntava se você ia nos desapontar e não vir — ela continuou. — Mas eu sabia que viria, porque o telefone não parou de tocar com ligações de seu escritório. Os empregados e todos os demais anotaram recados para si a tarde toda. E quem é esta? — perguntou animada, desprendendo afinal as mãos dos braços dele e recuando para olhar Lauren com franca curiosidade.
— Lauren, esta é Barbara Leonardos — Bill deu início às apresentações.
— Chame-me de Bebe... como todos os demais. — Tornou a virar-se para Bill e continuou quase como se Lauren não estivesse ali. — Achei que ia trazer Ericka.
— A serio? — ele escarneceu rindo. — E eu achei que você estava em Roma com Alex.
— Estávamos — admitiu Bebe —, mas quisemos vê-lo logo.
Após ela deixá-los momentos depois, Bill começou a explicar:
— Bebe é...
— Sei bem quem ela é — interrompeu-o Lauren em voz baixa, tentando não parecer reverente. Barbara Leonardos era a queridinha das revistas de moda e colunistas de fofocas, uma herdeira americana do petróleo e casada com um industrial grego multimilionário. — Vi fotos dela em revistas e jornais dezenas de vezes.
Bill entregou-lhe a bebida que preparara, pegou a dele e inclinou a cabeça para o casal que vinha a passos largos e de braços dados na sua direcção.
— Reconhece algum daqueles dois?
— Não, não me parecem nem um pouco familiares. — Bill sorriu.
— Neste caso, eu os apresentarei. São, por acaso, os nossos anfitriões, além de grandes amigos meus.
Preparando-se para a inevitável rodada de apresentações, Lauren examinou a bela morena na faixa dos trinta e o homem meio gordo ao lado, que beirava os sessenta.
— Bill! — A mulher riu radiante, jogando-se nos braços do amigo em total desatenção à bebida que ele segurava, e beijando-o com o mesmo desembaraço entusiasmado e íntimo de Bebe. — Não o vemos há meses! — repreendeu-o ao recuar. — Que diabos tem feito?
— Alguns de nós trabalhamos para ganhar a vida — respondeu-lhe Bill com um sorriso afectuoso. Estendendo a mão, pegou o braço de Lauren e trouxe-a para o círculo de camaradagem. — Lauren, gostaria que conhecesse os nossos anfitriões, Tracy e George Middleton.
— É um grande prazer conhecê-la, Lauren. — disse Tracy, e logo cobrou do amigo: — Que fazem os dois aí parados sozinhos? Ninguém vai perceber que estão aqui.
— Por isso mesmo é que estou aqui. — respondeu Bill, sem rodeios.
Tracy soltou uma risada pesarosa.
— Sei que lhe prometi que ia ser uma pequena reunião. Juro que não tínhamos a menor ideia de que todas as pessoas que convidamos iam aparecer. Você não imagina o problema que isso nos criou.
Olhou para o céu lilás e depois para trás. Acompanhando-lhe o olhar, Lauren viu que quase todos os convidados começavam a encaminhar-se até à casa ou desciam em direcção ao à praia, onde lanchas aguardavam para levá-los aos respectivos iates. Garçons haviam começado a arrumar mesas sob um imenso toldo listrado, e acendiam-se tochas ao redor da piscina. Músicos transportavam os instrumentos para um grande palco que fora montado na extremidade oposta da piscina.
— Todos estão a vestir-se para o jantar — declarou Tracy. — Vocês vão até o Abrigo para se trocarem ou planejam trocar de roupa aqui?
A mente de Lauren vacilou. Vestir-se para jantar? Não tinha nenhuma roupa adequada para usar num jantar formal!
Ignorando o aperto de Lauren em seu antebraço, Bill adiantou-se:
— Lauren vai trocar-se aqui. Vou até o Abrigo, retornar os telefonemas que não podem esperar, e troco-me lá.
Tracy sorriu para Lauren.
— A casa está superlotada: você e eu podemos usar o nosso quarto, e George encontrará algum outro lugar para se mudar. Vamos?
Bill notou a expressão de Lauren com um brilho irónico de entendimento.
— Acho que Lauren quer conversar alguma coisa comigo. Vá indo, e ela já irá.
Assim que o casal se afastou e não mais podiam ser ouvidos, Lauren disse, desesperada:
— Bill, eu não tenho nada adequado para vestir. Claro que tu também não deves ter, não é?
— Tenho umas coisas no Abrigo, e encontrarei um vestido para ti também — ele tranquilizou-a com toda a calma. — Mandarei trazê-lo, e estará no quarto de Tracy quando estiveres pronta para vesti-lo.
No interior da casa, dominavam uma cacofonia de vozes e alvoroçada actividade. Risos e conversas saíam de vinte aposentos diferentes em três pavimentos separados, com empregados a correr para todo o lado com roupas recém-passadas nos braços e bandejas com bebidas nas mãos.
Bill parou diante de uma das empregadas e pediu-lhe as mensagens telefónicas. Num instante, chegavam-lhe à mão, e ele virou-se para Lauren com um sorriso caloroso.
— Encontro-te dentro de uma hora junto à piscina. Consegues aguentar sem mim durante tanto tempo?
— Ficarei bem — ela tranquilizou-o. — Não te apresses.
— Tens a certeza?
Com os fascinantes olhos mel perscrutando os dela, Lauren não tinha certeza nem do próprio nome, mas assentiu com a cabeça assim mesmo. Quando ele se foi, ela virou-se e viu Bebe Leonardos observando-a com visível curiosidade. Varrendo a expressão sonhadora do rosto, Lauren perguntou:
— Onde fica o telefone? Gostaria de ligar para casa.
— Claro. Onde mora? — perguntou casualmente Bebe.
— Em Fenster, no Missouri — ela respondeu, seguindo-a até um luxuoso escritório próximo aos fundos da casa.
— Fenster?
Bebe fungou, como se um odor ofensivo se associasse ao nome da cidade.
Então saiu e fechou a porta atrás de si.
A ligação interurbana para o pai não levou muito tempo porque ambos tinham verdadeira consciência da despesa envolvida. Mas o pai dela rira de orgulho e estupefacção ao saber do novo emprego e do salário, e ficou aliviado por Georg Whitworth insistir que ela morasse no condomínio da tia, sem pagar aluguer. Ela não falou do ‘acordo’ com Georg porque não queria deixá-lo ansioso. Queria apenas que ele soubesse que o seu fardo financeiro agora fora aliviado.
Após desligar, atravessou o escritório e entreabriu a porta, parando ao som de uma animada voz feminina alteada em saudação no fim do corredor.
— Bebe, querida, está maravilhosa; faz séculos que não a vejo. Sabia que Bill Kaulitz deve estar aqui neste fim-de-semana?
— Está aqui — respondeu Bebe. — Já falei com ele.
— Graças a Deus ele veio! — A outra mulher riu. — Carlton arrastou-me para cá de uma praia divina nas Bermudas porque quer conversar com o Bill sobre algum acordo comercial.
— Carlton terá de esperar a sua vez — avisou Bebe indiferente. — Bill também é o motivo pelo qual Alex e eu estamos aqui. O meu marido quer conversar com ele sobre a construção de uma rede de hotéis internacionais. Vem tentando telefonar-lhe de Roma há duas semanas, mas o nosso amigo não retornou as ligações, por isso pegamos um avião para cá ontem.
— Não vi a Ericka lá fora — comentou a outra.
— Não viu porque ele não a trouxe... mas espere até ver o que trouxe no lugar dela. — A risada sarcástica na voz refinada de Bebe fez Lauren enrijecer-se, mesmo antes de a ruiva acrescentar: — Não vai acreditar! A rapariga deve ter uns dezoito anos e saiu directa de uma fazenda no Missouri. Antes do Bill a deixar sozinha por uma hora, precisou lhe perguntar se ficaria bem por conta própria!
As vozes esmoreceram quando as duas se afastaram.
O ataque verbal de Bebe surpreendeu e irritou Lauren, mas ela abriu com toda a calma a porta e saiu ao corredor.
Sentada à penteadeira de Tracy uma hora mais tarde, Lauren escovou o pesado cabelo até as mechas douradas e cor de mel queimado emoldurarem-lhe o rosto e caírem graciosamente onduladas acima dos ombros. Depois aplicou um blush rosado nas altas maçãs do rosto, uma nova camada de brilho da mesma cor nos lábios e colocou os cosméticos na bolsa.
Àquela altura Bill sem dúvida esperava-a na piscina. A ideia trouxe-lhe um brilho de pura felicidade aos olhos turquesa quando ela se curvou mais para perto do espelho e colocou cuidadosamente os amados brincos de ouro catorze quilates, que haviam pertencido à mãe.
Quando terminou, recuou para examinar o efeito do longo e sofisticado vestido creme que Bill mandara entregar enquanto ela tomava um banho. O tecido macio realçava-lhe os seios erectos e cheios, e as mangas longas e justas cingiam-lhe os braços até os pulsos, onde terminavam em pontas nas costas das mãos. O cinto de elos dourados firmava a cintura da blusa, de modo que exibia cada atraente curva feminina do corpo, desde o decote à bainha da saia levemente rodada de onde se projectavam os bicos das delicadas sandálias douradas que Tracy lhe emprestara.
— Perfeita! — Tracy riu. — Vire-se para eu ver as costas. — Lauren, obediente, fez-lhe a vontade, — Como uma coisa que parece tão recatada vista pela frente pode ser tão deslumbrante por detrás? — perguntou, olhando as costas lisas da jovem com o bronzeado dourado exposto quase até a cintura.
— Bem, vamos?
Enquanto as duas percorriam a varanda, Lauren ouvia os ruídos da festança ao lado da piscina abaixo flutuar pelas janelas abertas. Dezenas de risonhas vozes femininas misturavam-se aos murmúrios masculinos mais profundos e depois se misturavam num caos com a música alegre da orquestra.
Cinco segundos depois que saíram para o pátio ao ar livre, Tracy viu-se cercada e arrebanhada por um grupo de amigas, deixando Lauren sozinha. Ela esticou o pescoço e examinou a multidão em busca de um vislumbre de Bill. Avançou dois passos e logo o viu no meio de um grande grupo de pessoas no outro lado da piscina.
De olhos na alta figura dele, Lauren encaminhou-se cuidadosa e contornou os obstáculos de convidados, garçons, mesas com guarda-sóis e piscina. Ao chegar mais perto, viu-o junto a pessoas que conversavam animadas. Com a cabeça inclinada para elas, parecia ouvi-las com enlevada atenção, mas de vez em quando desprendia o olhar e deslizava-o pela multidão, como se à procura de alguém.
Dela, percebeu Lauren, com um ardor interno. Como se sentisse a sua proximidade, Bill ergueu de repente a cabeça e os seus olhos encontraram-se em meio ao aglomerado de gente. Com uma brusquidão que beirava a descortesia, balançou a cabeça para as pessoas com quem conversava e sem uma palavra apenas se afastou.
Quando o último grupo no pátio se separou para deixá-lo passar, Lauren teve a primeira visão de corpo inteiro dele e arquejou. O smoking preto e lustroso caía-lhe na esplêndida e alta figura como se o mais excelente alfaiate o tivesse feito sob medida. A estonteante brancura da camisa adornada de rufos fazia um belo contraste com o rosto bronzeado e a gravata borboleta formal. Bill usava o elegante traje com a segurança de um homem inteiramente habituado a ele. Lauren sentiu um absurdo orgulho dele, e não fez qualquer tentativa de escondê-lo quando ele parou, afinal, à sua frente.
— Alguém já te disse como és lindo? — perguntou baixinho.
Um vagaroso sorriso infantil espalhou-se pelas feições dele.
— Que acharias se eu te dissesse que não? — Lauren riu.
— Acharia que estás a tentar parecer modesto.
— Então, que devo fazer agora? — ele perguntou.
— Suponho que devias tentar parecer meio envergonhado com o elogio.
— Não fico envergonhado com muita facilidade.
— Nesse caso, podias tentar me envergonhar dizendo-me como achas que eu estou — ela insinuou rindo.
Girando devagar para não chamar a atenção dos outros convidados, mostrou-lhe de propósito o completo e surpreendente efeito do vestido. A reluzente luz das tochas reflectiu-se no tom de mel queimado dos seus cabelos quando ela completou a volta e esperou o olhar de Bill deslizar-lhe pelo rosto animado, pelos olhos azuis luminosos e macios lábios cheios, depois, percorrer-lhe de cima a baixo os exuberantes contornos do corpo.
— Então? — provocou-o, por sua vez. — Que achas?
Em vez de responder, ele ergueu afinal os olhos para os dela em chamas e tornou a deslizá-los pelo corpo esbelto. Hesitou e de repente respondeu:
— Acho que o vestido cai como uma luva em ti. — Lauren desatou a rir.
— Não deixes ninguém te dizer que tens jeito para elogios, porque não tens.
— Sério? — ele brincou, desafiando-a com os olhos, — Nesse caso, direi exactamente o que acho: és de uma beleza refinada, tens a fascinante capacidade de parecer ao mesmo tempo uma mulher sofisticada, de extrema sensualidade, e uma jovem em tudo angelical. E gostaria, como nunca, que não estivéssemos confinados aqui com uma centena de outras pessoas durante as próximas horas, pois sempre que te olho, sinto um desconfortável e forte desejo de descobrir como será ter-te nos braços esta noite.
A tez clara de Lauren coloriu-se de rubor. Não era tão angelical assim, e entendia o que Bill queria dizer com “desconfortável e forte desejo”. Desviou o olhar daqueles olhos zombeteiros e dirigiu-o aos convidados, aos iates acesos como brilhantes árvores de Natal, a tudo, menos ao corpo rígido e alto de Bill. Por que ele fora tão directo? Talvez desconfiasse que ela jamais tivesse dormido com alguém antes, e tentasse de propósito deixá-la em pânico para que admitisse o facto. Será que o incomodaria o fato de ela ser virgem?
A julgar pela franca atitude em relação ao sexo, era improvável que existisse algo que ele já não tivesse feito ou desconhecesse. No tocante às mulheres, Lauren duvidava que restasse uma única fibra de inocência naquele corpo de agressiva virilidade. Mesmo assim, teve a sensação de que Bill não ia querer seduzir uma virgem e levá-la para a cama. Claro, essa virgem específica queria muito ser “seduzida” por ele, mas não tão cedo, e tampouco com quase nenhum esforço. Deveria fazê-lo esperar até gostar mesmo dela. Deveria, mas não tinha certeza de que o faria.
Tomando-lhe firmemente o queixo entre o polegar e o indicador, ele virou para si o rosto erguido dela, obrigando-a a encarar-lhe os olhos provocadores.
— Se sou tão lindo, por que não olhas para mim?
— Foi uma tolice eu te dizer isso — desculpou-se Lauren, com tranquila dignidade — e...
— Foi, sem a menor dúvida, um grande exagero. — Bill sorriu, soltando-lhe o queixo — mas gostei de ouvir. E, caso te interesse saber, — acrescentou com a voz enrouquecida —, ninguém, jamais, me disse isso antes. — Ergueu os olhos no momento em que ouviu alguém chamá-lo pelo nome, e logo fingiu não ter ouvido. Pondo a mão sob o cotovelo dela, conduziu-a em direcção ao toldo listrado no relvado, onde garçons serviam entradas quentes e frias. — Vamos arranjar algo para comer e beber.
Nos cinco minutos seguintes, outras seis pessoas o chamaram. Quando isso aconteceu, ele comentou irritado:
— Por mais que eu gostasse de passar sozinho a noite contigo, vamos ter de confraternizar. Não posso continuar a fingir-me de cego e surdo por muito mais tempo.
— Eu entendo — disse Lauren, solidária. — São todos muito ricos e mimados, e, porque você trabalha para eles, acham que são seus donos.
Bill uniu as escuras sobrancelhas em surpresa.
— O que a faz pensar que trabalho para eles?
— Sem querer, escutei Bebe Leonardos dizer a alguém que o marido veio de Roma para conversar contigo sobre a construção de hotéis internacionais. E a outra mulher disse que o marido dela, cujo nome é Carlton, veio à festa também para tratar de algum tipo de negócio contigo.
Ele lançou um olhar aborrecido a toda a multidão, como se cada pessoa ali constituísse uma ameaça pessoal à sua paz.
— Eu vim até aqui porque tenho trabalhado duro há dois meses e queria relaxar durante um fim-de-semana! — disse furioso.
— Se não quiseres falar mesmo com ninguém sobre negócios, não há por que fazer isso.
— Quando viajam milhares de quilómetros para falar com a gente, as pessoas às vezes são danadas de persistentes — ele explicou, olhando mais uma vez os convidados. — E a não ser que o meu palpite esteja errado, no mínimo quatro outros homens vieram hoje aqui fazer exactamente isso.
— Apenas deixa comigo — disse Lauren, com um sorriso encantador. — Eu mantenho-os à distância.
— Farias isso? — Ele riu. — E como?
— Assim que alguém começar a falar contigo sobre negócios, interrompo-o e finjo distrair-te.
Bill baixou os olhos para os lábios dela.
— Não deve ser difícil... sempre me distrais.
E durante as três horas seguintes, ela fez exactamente como prometera. Livrou-o com toda a diplomacia de pelo menos uma dezena de conversas profissionais. Tão logo ele começava a envolver-se na discussão em demasiada profundidade, Lauren interrompia-o e lembrava-o com delicadeza que lhe prometera pegar uma bebida, levá-la a um passeio, ou qualquer artimanha que lhe ocorresse no momento.
E Bill deixava-a fazê-lo, observando as estratégias muitíssimo eficazes com uma mistura de franca admiração e velada diversão. Com uma bebida na mão esquerda e o braço direito enlaçado na cintura dela, ele mantinha-a ao seu lado, usando-a sem a menor desfaçatez como um escudo voluntário. Mas à medida que a noite avançava e a bebida fluía, as conversas tornaram-se mais altas, as risadas mais hilariantes e as piadas, mais obscenas. E os homens que queriam o tempo de Bill, mais persistentes.
— Você quer mesmo arranjar uma cãibra na perna de tanto andar? — ele perguntou-lhe num sussurro provocativo quando se afastaram de um iatista de tez muito corada que lhe pediu para dizer tudo o que sabia sobre uma empresa petrolífera em Oklahoma.
Lauren bebericava o terceiro cálice de uma deliciosa bebida servida após o jantar, com gosto e consistência de malte achocolatado, porém começava a perceber que a bebida era muito mais forte do que imaginara.
— Claro que não... as minhas pernas são perfeitas — anunciou rindo e virou-se para ver seis pessoas exuberantes que jogavam ténis numa única quadra. Uma das mulheres, uma francesa estrela de cinema, retirara a saia, ficando apenas de cai-cai de lantejoulas, cuecas de renda preta e... saltos altos.
Bill tirou-lhe o cálice vazio da mão e largou-o sobre uma mesa com guarda-sol ao lado.
— Vamos caminhar até à praia?
Um grupo festivo já seguia num dos iates com brilhante iluminação. Os dois ficaram juntos na praia, ouvindo a música e as risadas, contemplando o feixe de luz do luar fluindo pelo lago. — Dança comigo — ele pediu, e Lauren encaminhou-se, obediente, para os braços dele, adorando senti-los deslizar no seu corpo.
Encostou a face contra o tecido macio do casaco preto do smoking e moveu-se com ele ao ritmo da canção de amor tocada pela orquestra. Tinha vibrante consciência da intimidade das pernas masculinas que se deslocavam entre as dela.
Desde que se levantara naquela manha, ela participara em uma reunião com o senhor Weatherby, numa entrevista com Jim Williams, almoço com o Bill, uma longa viagem e agora esta festa onde bebera mais do que em toda a sua vida. Num único dia, sentira tensão, excitação, esperança e paixão, e agora passava o fim-de-semana com o homem dos seus sonhos. O carrossel emocional em que se encontrava cobrava-lhe o preço total; agora sentia uma deliciosa exaustão e mais que uma leve tontura.
Os pensamentos flutuaram de volta para a estrela do cinema francês, e ela riu baixinho.
— Se eu fosse aquela mulher a jogar ténis, teria continuado de saia e tirado os sapatos. Sabe por quê?
— Para poder jogar melhor? — murmurou Bill, distraído, afastando com o nariz, a sedosa madeixa de cabelo que caíra sobre a têmpora dela.
— Não, nem sei jogar ténis. — Lauren ergueu bruscamente o rosto para o do parceiro e confidenciou: — O motivo de conservar a saia é eu ser uma menina recatada. Ou inibida? Bem, de qualquer modo, sou uma das duas coisas.
Tornou a encostar a face nos sólidos músculos do peito dele, e Bill aninhou-se contra os cabelos dela, espalmou a mão na parte inferior da espinha nua e apertou-a mais contra o seu corpo rígido.
— Na verdade — continuou sonhadoramente — não sou recatada nem inibida, mas o confuso produto de uma criação meio puritana com uma educação liberal. O que significa que julgo errado fazer qualquer coisa, mas acho muito certo, outras pessoas fazerem o que querem. Vês algum sentido nisso?
Bill ignorou a pergunta e fez outra:
— Lauren, há alguma hipótese, mesmo que remota, de estares a ficar bêbada?
— Não sei ao certo.
— Não te embebedes — exigiu ele. Embora dito em voz baixa, foi uma ordem, dada para ser obedecida. Em vez de protestar contra aquela atitude autoritária, Lauren ergueu de repente a cabeça, mas os lábios dele atraíram-lhe no mesmo instante a atenção. — Nem penses nisso — murmurou ele, severo.
Então abriu a boca sobre a dela num beijo perturbador que a fez precipitar-se em espiral na escuridão, onde nada existia senão os sensuais lábios viris pressionados contra os seus, ferozes e exigentes. Afundou a mão na volumosa massa de cabelo na nuca dela e mergulhou a língua na sua boca, acariciando a dela, retirando-a e mergulhando repetidas vezes, até Lauren dar-lhe instintivamente o que ele queria. Suavizou os lábios e começou a movê-los com os dele, estimulando o desejo já ardente entre os dois. Contra si, sentiu a nítida evidência da paixão crescente de Bill, e tremores de prazer percorreram-na de cima a baixo. Os corpos juntos, uniam forças e demoliam-lhe o controle. Descuidada, arqueou-se para cima numa febril necessidade de agradá-lo mais, e ele apertou o braço ao redor dos seus quadris, puxando-a ainda mais para perto das suas coxas rígidas.
Bill arrastou a boca com violência pela sua face, e até o sussurro saiu rouco de desejo.
— Rapariga, não beijas como uma puritana — disse e colou os lábios mais uma vez nos dela. Aos poucos, relaxou a boca e afastou-a. Tremendo de excitação e medo, e já sem forças, Lauren encostou a testa no ombro dele. Afundava no abismo de desejo rápido demais e muito profundamente para libertar-se. As suas palavras seguintes o confirmaram: — Vamos para o Abrigo.
— Bill, eu...
Ele deslizou os braços dos quadris aos ombros dela, apertou-os e afastou-a alguns centímetros.
— Olha para mim — pediu com delicadeza.
Lauren ergueu os olhos azuis, entorpecidos, para os que a encaravam.
— Eu quero-te, Lauren.
A declaração tranquila e directa disparou-lhe chamas por todo o corpo.
— Eu sei — ela sussurrou, instável. — E isso deixa-me muito feliz.
Os olhos do Bill sorriram com afectuosa aprovação daquela candura feminina, e ele levou a mão ao rosto de Lauren e deslizou-a amorosamente pela têmpora até a nuca.
— E...? — incentivou-a.
Lauren engoliu em seco, incapaz de desprender o olhar do dele nem de lhe mentir.
— E eu quero-te. — confessou trémula.
Bill enfiou os dedos naqueles fartos cabelos e puxou-lhe a cabeça mais para perto da boca que descia ao seu encontro.
— Nesse caso — murmurou, com a voz pastosa —, por que continuamos em pé aqui fora?
— Ei, Bill! — Uma voz amistosa bramiu de poucos metros dali. — És tu?
Lauren afastou-se de um salto, como se apanhada em algum acto indizível, e depois quase desatou a rir quando Bill tornou a puxá-la e disse sem se alterar:
— Kaulitz já foi embora horas atrás.
— Não! Foi? Sabes por quê? — perguntou o homem, aproximando-se e espreitando-os desconfiado.
— Obviamente tinha coisa melhor a fazer — respondeu Bill, de fala arrastada.
— É o que vejo — concordou o recém-chegado de bom humor.
Após ter identificado sua presa, não mostrou qualquer inclinação a aceitar aquela rude insinuação e partir. Com um sorriso expressivo no rosto de queixo duplo, saiu saracoteando das sombras, obeso e moreno, e logo fez Lauren lembrar um urso de pelúcia. O casaco do smoking pendia aberto, a camisa de pregas desabotoada na gola e a gravara borboleta balançava, solta no pescoço. Era... adorável, ela concluiu, quando Bill o apresentou como Dave Numbers.
— Como está, senhor Numbers? — perguntou educada.
— Muito bem, menina — ele respondeu com um afável sorriso. Virou-se para Bill e informou: — Está a dar uma partida infernal de vinte e um (Jogo de cartas) a bordo do iate de Middleton. Bebe Leonardos acabou de perder vinte e cinco mil euros. Tracy Middleton lança apostas de três mil por rodada, e George recebeu quatro do mesmo naipe em duas mãos diferentes. As probabilidades de isso acontecer são de quatro mil em uma, e duas vezes deve ser de uns...
Mantendo um sorriso amável no rosto, Lauren apoiou a cabeça no peito de Bill, encostando-se em busca de calor, enquanto fingia ouvir Dave Numbers resumir os resultados da jogatina em andamento. Não apenas sentia frio, ficava sonolenta, e a mão do companheiro subindo e descendo-lhe pelas costas numa carícia indolente tinha um efeito quase hipnótico. Reprimiu um bocejo, depois outro, e minutos depois cerrou as pálpebras.
— Vou fazer a rapariga dormir de tédio, Bill — desculpou-se Numbers, enquanto falava das probabilidades de um jogo de futebol americano próximo.
Envergonhada, Lauren endireitou-se e tentou abrir um sorriso animado no rosto sonolento, quando Bill observou com um laivo de humor:
— Acho que a Lauren está pronta para ir para a cama. — O mais velho olhou-a e piscou para ele.
— Rapaz de sorte.
Com um breve aceno, virou-se e encaminhou-se em direcção à casa.
Enlaçando-a, Bill abraçou-a com força junto ao tórax musculoso e enterrou o rosto nos cabelos perfumados.
— Vou, Lauren?
Ela aninhou-se mais perto no calor daqueles braços.
— Vais o quê?
— Ter sorte esta noite?
— Não — respondeu ela, sonolenta.
— Achei que não. — Ele deu uma risadinha, apoiado contra os cabelos dela. Inclinando-se para trás, encarou-lhe o rosto sonolento e balançou a cabeça, irónico. — Vamos... estás quase a dormir.
Passou a mão em volta dos ombros dela e começou a conduzi-la de volta à casa.
— Gostei do senhor Numbers — ela comentou. O olhar de soslaio dele foi cheio de diversão.
— Na verdade, ele chama-se Mason. Numbers é um apelido.
— Um mago da matemática — observou Lauren em tom apreciativo. — E é muito simpático, amistoso e...
— Um agenciador de apostas — interrompeu Bill.
— Um o quê? — Ela quase tropeçou de surpresa. Apesar da hora tardia, a casa continuava iluminada e a festa, num auge febril. — Estas pessoas não dormem? — perguntou, quando Bill abriu a porta da frente e as ruidosas gargalhadas explodiram ao redor deles.
— Se puderem evitar, não — ele respondeu, inspeccionando a cena. Perguntou a uma empregada qual quarto fora reservado a Lauren, então levou-a ao andar de cima. — Vou ficar no Abrigo esta noite. Passaremos o dia lá amanhã... a sós. — Abriu a porta do quarto e acrescentou: — As chaves do carro estão com o mordomo. Tens apenas de virar ao norte na saída do acesso de veículos e chegar à primeira estrada, menos de quatro quilómetros à esquerda. O Abrigo fica no fim dessa estrada e ele é a única casa ali. Impossível não vê-lo. Espero-te às onze.
Essa arrogante suposição de que ela se dispunha de bom grado a ir ao Abrigo e fazer tudo o mais que ele quisesse, encheu-a de exasperada diversão.
— Não devias perguntar se eu quero ficar a sós contigo lá? — Ele riu baixinho.
— Tu queres. — Sorrindo-lhe como se Lauren fosse uma menina de nove anos, gracejou animado: — Se não quiseres, podes virar ao sul na saída do acesso e rumar ao Missouri. — Enlaçando os braços em volta dela, tomou-lhe os lábios num longo e ardente beijo. — Até às onze.
Irritada, Lauren o contradisse, de modo petulante: — A não ser que eu decida partir para o Missouri. — Depois que Bill saiu, ela afundou na cama, com um trémulo sorriso involuntário nos lábios. Como podia um homem exibir tão revoltante autoconfiança, arrogância e ser tremendamente maravilhoso? Ocupara-se demais com os estudos, o trabalho e a música para sequer chegar a envolver-se com alguém, mas era adulta. Sabia o que desejava, e queria Bill. Ele era tudo o que um homem devia ser — forte, educado, inteligente, sensato —, e tinha senso de humor, além de ser bonito e sexy.
Ergueu o travesseiro, envolveu-o nos braços, abraçou-o junto ao peito e esfregou o rosto na fronha branca como se fosse a camisa dele. Bill estava a jogar com o desejo, mas Lauren queria fazer com que também a amasse; queria conquistá-lo. Se pretendia fazer isso, e vir a tornar-se especial para ele, tinha de ser diferente das outras mulheres que Bill conhecera.
Então resolveu, iria chegar ao Abrigo às onze e meia, perfeito para ele pensar que ela tinha desistido dele!
*Continua no proximo capitulo*
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(a) ainda nao é neste, no proximo é que vosses vao fuzilar algem (Bill!!!) xD
Ele é mau :c
xD
Kiss <33'
Phi'K
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